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O Tempo

Alguns tempo atrás fui ao teatro assistir a peça Encontros Depois da Chuva. Durante os 50 minutos de encenação o tema tratado é a incomunicabilidade do ser humano e a padronização do comportamento diante de um mundo caótico.

Em cena quatro atores interpretam personagens e situações diversas do cotidiano, desde cômicas até dramáticas. Com poucas palavras e muitos gestos, a peça também contém algumas coreografias em movimentos vertiginosos.

Encontros Depois da Chuva mostra cenas fragmentadas retiradas do dia-dia como tomar o café da manhã em ritmo frenético para não chegar atrasado ao trabalho, pessoas à procura de emprego, outros enfrentando filas e perdendo tempo em um banco, situações corriqueiras de escritório, o chefe mandando e funcionários obedecendo às ordens de forma acelerada, entre outras.

Tudo isso mesclado a competições, futilidades, incompetências, correrias e muito stress. Num momento em que o celular é parte integrante e fundamental das vidas das pessoas, os personagens pouco se falam, repetindo assim comportamentos padronizados. Em certo momento da peça uma das personagens pára e calcula quanto tempo por dia ela tem só para ela, que acaba resultando em apenas duas horas.

É tão pouco tempo, que na indecisão de decidir o que fazer com as suas duas horinhas, ela perde mais um precioso tempo. Assim resolvi também calcular quanto tempo em média tenho por dia para dedicar a mim. Calculando que durmo oito horas por dia, me sobram 16, sendo que dessas, eu trabalho oito, ainda me sobram oito, saio às 17h30min vou direto para a aula, chegando em casa quase às onze da noite, o que me sobra duas horas e meia, mas nesse tempo todo desconsiderei higiene e alimentação, se calcular mais o tempo que dedico a estas tarefas, realmente não sobra muito tempo mesmo, e logo o sono e o cansaço pesam, então durmo para recomeçar tudo de novo no outro dia.

Assim passam os dias, passa a semana e as pessoas sobrevivem pensando e idealizando programas e projetos para realizar no final de semana, que também não é longo, já que dormimos em média 16 das 48 horas que temos para fazer tudo aquilo que durante a semana o tempo, o cansaço e os outros afazeres nos impedem de fazer. Por esse motivo, posso dizer que a peça é no mínimo instigante, nos faz refletir a respeito do que fazemos e como aproveitamos o nosso tempo.

Não podemos viver nossos dias pensando nos prazeres que poderemos ter somente no final de semana, temos que viver cada novo dia com alegria, fazer o que se gosta, não deixar para depois porque muitas vezes os desejos e sonhos se acumulam e acabamos por não realizarmos nada. A lição que a peça me deixou foi a que devemos viver cada dia como se fosse o único, talvez o último.

Mas todo mundo sabe disso né, que não podemos deixar as coisas para amanhã, que temos que aproveitar o presente, que a vida é curta, que o tempo não volta e blábláblá, mas pouquíssimos colocam em prática esses ensinamentos. Eu mesmo não cumpro com todos eles, às vezes dá uma preguiça, o cansaço e o sono são mais fortes, mas pelo menos tento não desperdiçar meu tempo com coisas fúteis e que não me acrescentem em alguma coisa. Acho que quebrar a rotina, não fazer tudo igual todos os dias, fazer ou ter alguma coisinha nova no dia já é um grande começo. Temos de despadronizar um pouco a vida.

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