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Direito à escolha


Fazia tempos que queria assistir ao filme Mar adentro, que já é antiguinho (2004), mas por vários motivos, acabava sempre por adiar. Até que nas últimas férias finalmente consegui ver. Mar adentro tem no papel principal Javier Bardem, com uma ótima atuação. Porém, o meu intuito não é de falar sobre o filme em si e a encenação de Bardem, mas sim sobre o tema que o filme se propõe a discutir: a eutanásia.

A história é baseada em fatos reais e retrata a vida de Ramón Sampedro (Bardem), um homem que na juventude sofreu um acidente marítimo que o deixou tetraplégico para sempre. Durante 28 anos, Sampedro esteve preso a uma cama, completamente paralisado e à mercê dos outros. Cansado dessa vida e com plenas faculdades mentais, passou a lutar na justiça para ter o direito de pôr fim ao seu sofrimento. No entanto, seu desejo não foi bem recebido por alguns membros de sua família, pela justiça, pela igreja e pela sociedade.

Depois de ver o filme, percebi que ainda não tinha uma posição definida quanto ao tema. Muitos pensam que a pessoa que deseja a eutanásia é covarde e egoísta, que só pensa em si e que não valoriza as pessoas ao seu redor. Contudo, creio ser mais egoísta manter uma pessoa viva em estágio vegetativo, mesmo contra a sua vontade. O tema é complexo e talvez eu agisse de maneira adversa ao que está escrito neste texto. Às vezes acho que ninguém deve tirar a própria vida, mesmo sob qualquer justificativa.

Em outros momentos tenho certeza de que é difícil conviver com uma situação dessas, tanto para a própria pessoa que está doente, quanto para os familiares e amigos. Se fosse comigo, talvez não suportasse ficar presa a uma cama, dependendo de todos para fazer qualquer coisa. Mas, se fosse com alguém da minha família, também não suportaria se a pessoa levasse adiante a ideia. Talvez até tentasse persuadi-la do contrário. Reconheço que é uma forma egoísta de se pensar. Mesmo com tantas perdas na família, não aprendi e acho que nunca vou aprender a lidar com a morte. É doloroso demais, e ainda sinto a falta de pessoas queridas que se foram há muito tempo.

Meus pensamentos confusos se devem a isso. No entanto, acredito que a eutanásia é um assunto que ainda necessita de muita discussão. E mesmo com meus momentos de egoísmo ao dizer que não gostaria que alguém próximo fizesse, somente aquele que anseia pela permissão sabe o sofrimento que carrega. Assim, penso que as pessoas deveriam ter o direito de escolher o que lhe parece melhor para sua vida ou condição. Não vejo como suicídio ou homicídio, mas sim como uma maneira de amenizar o sofrimento de quem fica e acabar com o de quem parte.

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