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É necessário refletir


Na semana passada o Brasil ficou chocado com a tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro. Também fiquei horrorizada, pois crimes desse tipo, em que um maluco entra numa escola vitimando vários estudantes, parecia coisa quase exclusiva da sociedade norte-americana. Não lembro de ter ouvido falar nada desse tipo no Brasil.

Os tristes acontecimentos desencadearam uma série de opiniões e temas a serem abordados. Aqui mesmo neste texto, poderia falar sobre o possível bullying do atirador, sobre a sua possível religião. Mas vou me deter a outros dois assuntos, que, creio, requerem um pouco mais de atenção: a cobertura da mídia e as reações das pessoas diante desse crime.

Naturalmente, um crime com tamanha magnitude não pode passar despercebido pela mídia. O fato certamente foi noticiado em todos os veículos, de diferentes gêneros.

No entanto, como era de se esperar, a imprensa brasileira explorou ao máximo a tragédia. Na TV, Sonia Abraão e Ana Maria Braga mostraram exaustivamente imagens de mães desesperadas e crianças chorando. Desses dois programas, não se esperava algo muito diferente, mas as manchetes de alguns jornais foram de tamanho mau gosto que senti vergonha por quem as escreveu.

No dia seguinte à tragédia, o jornal A tribuna, de Santos, trazia a seguinte manchete na capa: “Na lista de chamada 12 alunos não dirão presente”. Outros jornais estampavam a foto de Wellington Menezes de Oliveira, caído no chão, todo ensanguentado. Concordo que às vezes a clássica frase “uma imagem vale mais do que mil palavras” seja verdadeira, mas, nesses casos, é totalmente desnecessária.

O jornal Extra, do Rio de Janeiro, estampava a capa com fotografias de algumas vítimas, com o texto “Vira pra parede que eu vou te matar”, e a página toda manchada de vermelho, como se sangue escorresse pelo papel. No jornal Meia hora, também do Rio, a manchete dizia: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.

Algumas pessoas afirmam que a mídia deveria ter dado somente a notícia do fato ocorrido, sem mais detalhes. Discordo. A mídia deve sim mostrar os desdobramentos do fato. Eu quero saber, e a maioria do público e da sociedade também, mas não por uma questão mórbida, e sim para conhecer a verdade dos fatos, ou, dependendo do caso, se vai haver justiça. Informar é um dos papéis do jornalismo, claro que de uma maneira correta, e sem apelações.

O outro ponto que me despertou atenção foi o pensamento de algumas pessoas sobre os fatos. Ouvi pessoas dizendo que a cobertura foi exagerada porque muitas outras crianças morrem diariamente. Coisas desse tipo também foram ditas na época da morte da menina Isabela Nardoni. Dizia-se que o crime estava na mídia somente porque os pais eram de classe mais abastada. Realmente, enquanto se divulgava incessantemente todos os detalhes do caso Isabela, muitas outras crianças foram assassinadas, pelos mais variados motivos. E muitos desses fatos não chegaram à mídia porque se tratava de pessoas menos favorecidas financeiramente.

Agora, mais uma vez ouvi pessoas comentando que a mídia está dando muito espaço para o ocorrido e que todos os dias muitas outras crianças morrem, vítimas até mesmo da polícia. Ok. Pode ser verdade. Mas o fato de isso não chegar até a imprensa, não quer dizer que eu tenha que ficar indiferente perante os tristes fatos.

Não fiquei chocada apenas por ter sido no país em que vivo, nem somente pelo número de crianças e adolescentes que perderam suas vidas, mas pela crueldade, pela maneira como ocorreu. Poderia ter sido uma criança, e o meu sentimento seria o mesmo. Dias após, um homem adentrou um shopping na Holanda e matou seis pessoas. Também fiquei triste.

Assusta-me e preocupa-me que a insensibilidade esteja tomando conta de muita gente. Parece-me que a vida está banalizada para alguns. São vidas que estão sendo desperdiçadas, e isso não pode passar sem um mínimo de tristeza e indignação. Onde fica a empatia para com o próximo?

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