Pular para o conteúdo principal

Das coisas que gostava e não gosto mais

Percebi recentemente que algumas coisas que eu gostava já não me interessam ou não me chamam tanto a atenção. A lista começa com os livros de Paulo Coelho. Alguns dirão “ainda bem”. Mas o fato é que devo a Paulo Coelho (e a meu namorado, que lia seus livros) a minha paixão pela leitura. Foi na adolescência, quando a professora de português proibia a turma de ler os livros dele, que passei a prestar atenção em Paulo Coelho, e gostar de ler suas páginas. Encantava-me aquelas histórias de magias, da busca para descobrir o que se quer, dos exercícios – que mais pareciam feitiços – que existiam em alguns de seus livros. Lia todos os livros de Paulo Coelho que passavam pela minha mão, até que chegou a vez de A bruxa de Portobello, e o que parecia interessante se tornou extremamente cansativo. Não aguentava mais ler as mesmas coisas de sempre: magias, caminhos, busca pessoal, guerreiro da luz. Confesso que na minha estante há muitos livros dele, mas que não leio mais. Mas, como sou apegada aos meus livros, eles continuarão a ficar exatamente onde estão. Hoje, não consigo nem mesmo ler algum texto dele que saia no jornal. Até uns dois anos atrás, assistia ao programa Pânico, da Rede TV. Gostava de alguns quadros, como o do Christian Pior, que quase sempre colocava defeitos nas roupas das pessoas, e, em alguns momentos, era engraçado. Curtia também quando invadiam alguma festa de casamento, a pedido dos próprios noivos. Depois, não sei por que, parei de ver o programa. Numa noite em que estava fazendo um trabalho da faculdade, e a TV estava ligada para colocar um pouco de som no silêncio da noite, troquei várias vezes de canal, e, como já era tarde, não havia nada mais interessante em pleno domingo. Decidi, então, assistir um pouco do Pânico. Fiquei chocada com as brincadeiras de mau gosto, em que eles acabam se machucando por nada – quase uma versão brasileira do Jackass –, só para dar audiência. Sem falar nas cenas apelativas, que existiam desde os primeiros programas, porém de uma maneira um pouco mais ponderada. Uma das panicats tomou banho num chuveiro de um estádio de futebol, totalmente nua. Na tela, suas “partes” eram cobertas com pequenas tarjas pretas. E não, não estou criticando apenas porque sou mulher, mas acho que realmente um programa não precisa baixar tanto o nível. Enfim, é outra coisa que saiu da minha lista das coisas que gosto. Mudando de foco, não tenho vergonha de dizer que gostava das músicas de Ivete Sangalo e da própria cantora. Achava que ela tinha bom humor, era engraçada. Dancei, cantei e me diverti muito ao som de Festa e Sorte grande. No entanto, hoje, as músicas já não me cativam tanto, acho-as muito melosas. Quando vejo Ivete na TV, me parece que, às vezes, ela força uma situação para que pareça engraçada. Apesar de não comprar mais seus CD’s, até me divirto um pouco com suas músicas, em alguma festa. Durante a adolescência, eu era muito noveleira, assistia a todas as produções da Globo. No meu entender, Regina Duarte representava bem e ponto. Gostava dela como atriz. Há algum tempo, percebi que não, ela não é uma boa atriz. Não conheço todos os seus trabalhos, não sei como representa no teatro ou no cinema, mas, nas novelas, sempre a vi fazendo o mesmo papel: o da mocinha, que sofre e chora até o fim da trama, quando tudo fica bem. Agora Regina Duarte interpreta Clô Hayala no remake/minissérie O astro. Como estou acompanhando a história, tenho prestado atenção na sua atuação, e ela continua não me convencendo. Mesmo quando faz uma cena em que o sentimento necessário é a raiva, o ódio, a indiferença, ela sempre faz tudo igual. Podem ver: ela aperta os olhos, tentando fazer uma cara de raiva, faz um ringir de dentes, o que é muito irritante e decepcionante. Confesso que tenho vontade de atirar algo na TV quando ela aparece. Com o surgimento de novas redes sociais, o Orkut foi deixado de lado. Não somente pelo fato de os novos serem mais úteis e interessantes. Assim que passei a usar o Twitter e o Facebook, abandonei o Orkut. Mas não exclui meu perfil por ter contatos que não tenho em outros lugares. No entanto, mesmo antes de aderir ao Twitter e ao Facebook, não achava mais interessante o Orkut. As mensagens brilhantes e piscantes me cansaram, além das intermináveis correntes (muitas estão migrando para o Facebook) e as comunidades que trocam de nome sem consultar os integrantes. Num dia, você pode estar na comunidade, por exemplo, “Gosto de aventuras”, e, no outro, essa mesma vira “Adoro sexo em local público”. Não é exagero. Em uma das comunidades que eu estava, ocorreu algo semelhante. Enfim, uma série de fatores fez com que eu deixasse totalmente de lado essa rede. Entre as coisas que não aprecio mais, a que me é mais surpreendente são os livros da Martha Medeiros. Surpreendente porque, antes, quando comprava seus livros, os devorava em dois dias. Recentemente, comprei o lançamento Feliz por nada e levei umas duas semanas para concluir a leitura. É um livro de crônicas, e parece que tudo que lia eu já tinha visto em algum lugar, talvez nas crônicas anteriores da autora. Das mais de 80 crônicas, creio que em apenas umas três eu li algo que pensei: “Bah, legal! Vou anotar”. As restantes pareciam mais com o que se está acostumado a ler nos livros de autoajuda. Abaixo segue um trecho da crônica Amigo de si mesmo: “Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto ‘ser amigo de si mesmo’. Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. É ou não autoajuda? Quando se é mais jovem, temos algumas percepções que achamos que é a certa. Ainda bem que crescemos e mudamos de opinião. Já dizia sabiamente Raulzito: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”

Comentários

Concordo contigo em tudo o que tu escreveu, também não gosto mais de todas essas coisas. O problema é que, às vezes, a gente se apega demais ao que não gosta mais e não consegue ceder espaço ao novo... Desapego, já!

Tu escreve super bem e teu blog é uma lindeza. Beijo!
Estamos sempre em mudanças e evoluindo. Parabéns pelo belo texto.
Pois é, a vida é um carrosel, cheia de autos e baixos, que não anda em circulos, e talvez por isso dificilmente ficamos enjoados de viver... Qual o significado disso? sei lá. rsrsrs Tem coisas que é melhor nem saber... grande abraço. ABC