Há dias assisti ao filme O artista e senti necessidade e vontade de fazer alguns comentários. No entanto, como o tempo foi passando, achei melhor esperar o resultado da 84ª edição do Oscar, que ocorreu neste domingo, 26, em Los Angeles.
Numa época em que muitas produções são marcadas pelo uso e abuso de efeitos visuais e sonoros de todos os tipos, o diretor francês Michel Hazanavicius conseguiu criar um filme encantador, sem que para isso fosse preciso utilizar vozes ou cores.
O artista se passa na Hollywood – ainda Hollywoodland – da década de 20 e conta a história de George Valentin (Jean Dujardin), um ator que faz muito sucesso com o cinema mudo e com o público feminino. Porém, com o passar dos anos, a indústria cinematográfica passa por problemas e os empresários decidem apostar nos filmes com falas. Assim, George fica receoso de que possa perder seu espaço para outros atores e outros filmes.
Mesmo com medo, George é orgulhoso e se recusa a fazer outro tipo de cinema que não seja o mudo. Para isso precisa ultrapassar as dificuldades que aparecem em seu caminho.
Em meio a esses problemas, o filme também trata da história entre George e Peppy Muller (Berenice Bejo), uma jovem atriz coadjuvante que com o decorrer do tempo, obtém grande sucesso e reconhecimento, principalmente em filmes falados.
Isso é uma breve sinopse, pois o roteiro nos mostra muito mais. O diretor Hazanavicius criou uma trama que proporciona ao espectador momentos engraçados e ao mesmo tempo emocionantes. Há cenas hilárias, com destaque especial para o cãozinho (Uggie), companheiro de cena de George, como as que George sinaliza para que o cachorrinho finja-se de morto.
Os personagens principais, George e Peppy são extremamente simpáticos. É quase impossível não se encantar por eles. Além disso, a interpretação dos atores faz juz aos prêmios recebidos.
Creio que, nos dias atuais fazer a representação de um filme mudo é muito mais difícil do que antigamente. Nas décadas em que todas as produções eram assim, isso não era novidade. Hoje, com a infinidade de recursos disponíveis, produzir um filme mudo é quase uma inovação. Talvez Charles Chaplin estava certo quando dizia "O som aniquila a grande beleza do silêncio". E essa beleza é possível encontrar em O artista.
Ouso dizer que tudo no filme é perfeito, a atuação, a caracterização, o figurino, a fotografia e o som. (Nota-se como gostei da obra). O artista é mudo, com pouquíssimas legendas, mas a trilha sonora dá o tom da cena. O espectador percebe claramente se a cena é dramática, engraçada ou tensa.
Na noite mais glamourosa do cinema, O artista manteve o favoritismo que vinha ocorrendo em todas as premiações relacionadas à indústria cinematográfica, e venceu em cinco das dez categorias a que estava indicado. Melhor filme, direção, ator, figurino e trilha sonora original foram os prêmios para o filme que retomou a magia do cinema mudo. Super merecidas as premiações.
Outro filme com várias indicações foi A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorcese. O filme concorria em 11 categorias e venceu cinco. Ainda assim, O artista se saiu melhor, não só por ter conquistado metade das estatuetas a que estava concorrendo, mas também por ter obtido os melhores prêmios do Oscar, ironicamente a premiação tipicamente americana.
Contrariando o que ocorreu nas últimas premiações, curiosamente a Academia não premiou um filme norte-americano. Isso mostra que, talvez tenha havido um pouco menos de preconceito por parte do júri, o que não ocorreu com a categoria de melhor canção original, em que o Brasil concorria com a música Real in Rio, pelo filme Rio. A vencedora foi a canção Man or Muppet, do longa Os Muppets.
Para finalizar, para quem não está acostumado a ver filmes no estilo, mudo e preto e branco, pensa-se que é cansativo, mas engana-se! A história não é alongada ou curta demais, é na medida certa, aquela que fica um gostinho de quero mais. Em algumas vezes até nos remete aos filmes engraçados de Charles Chaplin. É uma pena que ainda não esteja em muitos cinemas, e em muitos outros nem vai chegar, resultando assim em diversos downloads ou longas esperas até a chegada à locadora mais próxima.
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