Vergonha. Foi esse o
sentimento que senti hoje. Tinha saído do trabalho lépida e faceira por ser meu
primeiro dia de férias, quando fui abordada por um rapaz. Suas roupas
esfarrapadas e sujas me fizeram o julgar assim, à primeira vista. Sem querer,
dei um passo para trás. Não era intenção, mas foi uma ação instintiva.
– Moça, não se preocupe, eu não
sou ladrão – foi o que ele me disse. Senti vergonha por ter agido com um
pré-conceito. A maioria das pessoas age assim quando vê alguém fora das
condições aceitas pela sociedade.
Não acredito que ele fosse
um ladrão ou tivesse qualquer intenção de me fazer mal. Pessoas assim como ele
são invisíveis aos olhos dos outros. Eu olhei para ele e seus olhos eram
tristes, de alguém que não estava pedindo dinheiro por apenas querer, mas que
fazia porque era uma necessidade. Sensibilizei-me com seu olhar e com aquelas oito
palavras. Dei a ele todas as moedas que tinha na carteira, no momento era o que
eu tinha.
Temos o hábito de pré-julgar
sem conhecer as pessoas e suas agruras. Talvez por influência do livro que
estou lendo, O olho da rua, da jornalista
Eliane Brum – que conta histórias de pessoas anônimas e invisíveis – tive
vontade de conhecer a história dele, o motivo de estar ali pedindo algumas
moedas, dependendo da bondade alheia. Mas fui covarde. Para alguns terei sido
sensata.
É, realmente precisamos
estar prevenidos, pois nem todos tem a maldade estampada na cara. Porém muitos
também estão nesta mesma situação por não terem uma oportunidade na vida. Muitas
vezes não é uma escolha, mas sim a única opção.
Quantas vezes olhamos para
essas pessoas nas ruas e não as notamos? Olhamos mas não vemos. Um dia desses
falando com uma amiga sobre qualquer coisa, disse a ela: “Olha pra ti ver”, ela
ainda brincou com a redundância de minha frase. Mas agora pensando, acho que há
uma diferença entre olhar e ver. Olhamos tudo ao nosso redor, mas ver, prestar
atenção de verdade não é sempre. Nosso olhar é seletivo, vemos aquilo que
queremos.
Tenho certeza que, naqueles rápidos instantes, o sentimento de vergonha foi compartilhado por nós dois: eu, por ofendê-lo com meu julgamento instantâneo; ele, por estar ali sendo tachado de ladrão. Segundos depois nossas vidas separam-se novamente e eu segui fisicamente intocada, mas emocionalmente abalada.
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