Isso é uma das coisas que
temos em comum eu e minha sobrinha, além do gosto pela escrita, canetas e
afins. Lavínia hoje tem doze anos, fará treze em julho. E desde que despertou o
interesse pelas letras, preciso aceitar e dividir com ela cadernos, canetas, post-its.
Sempre muito carinhosa, já nos
primeiros rabiscos queria fazer cartinhas para os avós, meus pais. Toda semana
chegava com um papel colorido dobrado em formato de envelope, decorado com
adesivos e algumas palavras. Ela mora em Salvador do Sul, e vem toda
sexta-feira passar o final de semana com a gente e com o pai, que é meu irmão.
Ele também recebia muitos
bilhetes e cartas, até mesmo fora de datas especiais. Brincávamos que era impossível
guardar tudo. Mas, eu não recebia. Também não comentava. No dia 08 de janeiro
de 2016 quando cheguei do trabalho havia algo na minha cama. Era meu
aniversário, e ela havia voltado para a casa dela. Naquele dia saí cedo e não
nos vimos, mas ela não esqueceu da data. Na minha cama ela tinha deixado um
laço de fita vermelho e branco, aproveitado de algum outro presente, além de
uns bilhetinhos.
Com traços tremidos de quem
ainda não tinha a letra formada, estava escrito “Dinda querida, minha grande
amiga. Feliz aniversário!”, desenhos de corações e flores. Em outro pedaço de
papel ela dizia que tinha se atrapalhado ao dobrá-lo. Minhas mãos tremeram ao
segurar os papéis, e foi com os olhos cheios de lágrimas que eu li aqueles
poucos rabiscos uma, duas, três vezes. Um simples gesto e foi o melhor presente
de aniversário daquele ano.
Depois daqueles primeiros
escritos, ela me escreveu várias cartinhas, e hoje usa meus próprios post-its
para me deixar recados na porta do meu guarda-roupa. São bons dias, boas
noites, frases motivacionais ou lembretes com segundas intenções que colorem as
portas brancas do móvel. A maioria dos papéis fica lá, até ser desbotado pelo
tempo ou caído pelo vento.
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